Evolução é qualquer processo de crescimento, mudança ou desenvolvimento. Melhoria. Na música ocorre o mesmo. Porém, só até algumas décadas.
Primeira década. O rapaz está de terno, colete e cravo na lapela. Vai até embaixo da janela dela e canta:
“(...)Ai, vem matar essa paixão que anda comigo
Ai, por quem és, desce do céu, ó, lua branca
Essa amargura do meu peito, ó, vem, arranca
Dá-me o luar de tua compaixão
Ó, vem, por Deus, iluminar meu coração
E quantas vezes lá no céu me aparecias
A brilhar em noite calma e constelada(...)”
(Chiquinha Gonzaga – Lua branca)
Década de vinte. O rapaz de terno branco. Chapéu de palha de lado, debaixo da sacada dela, canta:
“(...)Depois do carnaval, continua o nosso amor.
Eu sou sentimental, sempre fui um sonhador.
Eu sou sentimental, sempre fui um sonhador.
Comprei uma fantasiauma fantasia de pierrot,
Pra o meu bem se divertir
Comprei uma fantasiauma fantasia de pierrot,
Pra o meu bem se divertir.
Pra o meu bem se divertir,
Dei meu último tostão e o meu coração!(...)”
(Francisco Alves – Comprei uma fantasia de pierrot)
Década de trinta. O jovem de terno cinza e chapéu panamá. Vai até a vila onde ela mora e canta:
“(...)Tu és, divina e graciosa.
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu(...)”
(Pixinguinha/Otávio de Souza – Rosa)
Década de quarenta. O jovem agora ajeita seu relógio na algibeira. Está escrevendo para Rádio Nacional. Manda oferecer uma linda música a ela:
“(...)A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar.
Nos seus olhos, eu suponho
Que o sol, num dourado sonho
Vai claridade buscar.
Minha rua é sem graça
Mas quando por ela passa
Seu vulto que me seduz.
A ruazinha modesta
É uma paisagem de festa
É uma cascata de luz.(...)”
(Nelson Gonçalves – A deusa da minha rua)
Década de cinqüenta. O garoto vai até o locutor da rádio da praça. Pede que ofereça a ela uma interpretação. Uma magnífica bossa:
“(...)Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça. É ela a menina que vem e que passa, no doce balanço a caminho do mar. Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema. O teu balançado é mais que um poema. É a coisa mais linda que eu já vi passar.(...)”
(Tom Jobim – Garota de Ipanema)
Década de sessenta. Ele aparece na casa dela. Consigo um compacto debaixo do braço. Ajeitando a calça Lee, coloca na vitrola uma música papo firme:
“(...)Eu tenho tanto pra lhe falar
Mas com palavras não sei dizer
Como é grande o meu amor por você
E não há nada pra comparar
Para poder lhe explicar
Como é grande o meu amor por você
Nem mesmo o céu, nem as estrelas
Nem mesmo o mar e o infinito
Não é maior que o meu amor, nem mais bonito (...)”
(Roberto Carlos – Como é grande o meu amor por você)
Década de setenta. Sem caretice ele chega ao fusca com tala larga. Sacode o cabelão, abre a porta e chama o broto pra entrar. Bota um melô jóia no toca-fitas:
“(...)Se você pensa em fazer chorar a quem lhe quer
a quem só pensa em você
um dia sentirá
que amar é bom demais
não jogue o amor ao léu
meu coração que não é de papel
Porque fazer chorar
porque fazer sofrer
um coração que só lhe quer
o amor é lindo eu sei
e todo eu lhe dei
você não quis
jogou ao léu
meu coração que não é de papel(...)”
(Sérgio Reis – Coração de papel)
Década de oitenta. O colega escreve uma carta. Em homenagem a ela, a letra diz:
“(... Fontes de mel, nos olhos de gueixa, Kabuki, máscara. Choque entre o azul e o cacho de acácias,
luz das acácias, você é mãe do sol.
A sua coisa é toda tão certa, beleza esperta.
Você me deixa a rua deserta, quando atravessa
E não olha pra trás.
Linda, mais que demais...(...)”
(Caetano Veloso – Você é linda)
Década de noventa. Ele liga para ela, e deixa rolar um som:
“(...)Moça me espere amanhã levo o meu coração pronto pra te entregar
Moça, moça eu te prometo eu me viro do avesso,
só pra te abraçar
Moça eu sei que já não é pura,
teu passado é tão forte pode até machucar
Moça, dobre as mangas do tempo
jogue o teu sentimento todo em minhas mãos
Eu quero me enrolar nos teus cabelos
Abraçar teu corpo inteiro,
morrer de amor, de amor me perder (...)”
(Wando – Moça)
Começa o novo milênio. O “rapá” pára o chevetinho 81. Rebaixado e no mais alto volume e quebra o som:
“(...)uh so as cachorras
uh uh uh uh uh!
as preparadas
uh uh uh uh uh! <2X
as popozudas
uh uh uh uh uh!
o baile todo
uh uh uh uh uh!
pula sai do chao esse e o bonde do tigrao
libera a energia e vem pro meio do salao
o baile esta tomado eu quero ver voce dança
ta tudo dominado e o planeta vai grita assim:(...)”
(Bonde do tigrão – Só as cachorras)
Hoje em dia. Ele abaixa pela internet o hit mais ouvido. O cara vai e manda para a mina. Diz que está apaixonado:
“(...)Você sempre jurou a mim eterno amor
Que um dia casaria comigo e seria feliz
Mas você mentiu e vi que estava errado
Um dia vi você sair com ex-namorado
Eu vou te deletar te excluir do meu orkut
Eu vou te bloquear no MSN
Não me manda mais scraps nem e-mail, Power point
Me exclua também e adicione ele(...)”
(Ewerton Assunção – Vou te excluir do meu orkut)
É. Conseguimos mesmo evoluir. Aposto quem em 2010, agente chega lá. Surdos, mas o importante é ir pra frente, crescer, mudar e desenvolver.
23 de abril de 2008
Evolução Musical
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Um comentário:
faltou aquela:
você mijou-mijou- me jogou fora!
mas que coco coco cocoisa ruim!
mas na verdade você nun cagou nun cagou nunca gostou de mim!!!
:-D
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